A audácia por companhia...

... foi assim que dei por mim num single track muito agradável
e mais batido que desembocou numa encosta bem conhecida...
Depois de um jantar convívio com a familia até bastante dentro na madrugada, levantei-me cedo para levar a esposa á baixa da cidade e segui para a serra para mais um treino.

Ainda meio "zombie" hesitei sobre o percurso e acabei por me deixar "perder" por trilhos que desconhecia, embora sempre com referências de orientação. As giestas que quase tapavam o trilho, algumas precoces flores silvestres e o musgo abundante que colonizava as margens e a parte central do trilho eram a demonstração de que estes caminhos estavam fora de rota.

Depois da audácia inicial, comecei a questionar-me se teria sido boa opção colocar-me assim sózinho numa zona tão isolada da serra, provavelmente não. Parei para analisar a minha posição, era uma zona muito densa de eucaliptos e mato e não conseguia avistar nada com aquela densidade de arvoredo. O silêncio era imperial e as cascas do eucaliptos pendentes como uma pele velha de serpente a abandonar o corpo davam um toque de exotismo ao ambiente. Subitamente comecei a preocupar-me mais com as sensações que o corpo transmitia, analisei o batimento cardíaco que o GPS acusava, comecei a prestar mais atenção ao solo para não tropeçar e assim evitar uma queda, analisava constantemente a direcção do trilho etc. Percebi que já não tinha aquele prazer que advém de seguir tranquilamente correndo pela natureza. Assim não valia pena, se o caminho não me aproximasse de zonas conhecidas e mais na rota de outros possíveis utilizadores teria de fazer alguma coisa nesse sentido.

Foi assim que me encontrei num single track bastante agradável e mais "batido" que me deixou espantado por desembocar numa encosta que eu tão bem conhecia... Foi uma abordagem nova e muito reconfortante do ponto de vista psicológico. Decidi logo fazer o resto da escarpada, hoje seria tudo a correr para treinar bem os gémeos. Sempre com os apoios perto da ponta dos pés lá fui trepando em corrida lenta.

... sempre com os apoios bem na frente dos pés fui subindo
a escarpa em corrida lenta, tirando uma foto aqui e acolá...
De vez em quando uma foto com um telemóvel já antigo, a minha única esperança de contactar ou ser contactado em caso de necessidade. Este tem-se revelado de uma resistência inabalável, mas quando se trata de registar pixeis as limitações são notórias. Daqui para a frente o treino proseguiu em zonas de grande exigência fisica mas num traçado amplamente conhecido. Depois de no jantar festivo da véspera ter consumido bastantes calorias optei por seguir para este treino em jejum. Talvez por isso, e também pelo objectivo de puxar bastante nas subidas, a parte final foi feita já com pouca força. Uma dor no adutor da perna direita também não veio ajudar. Já no carro, troquei de imediato as t-shirts encharcadas por roupa quente e seca e fiz um batido de proteina que bebi lentamente, há muito que a água se tinha acabado e já tinha também alguma sede.

Uma breve sessão de alongamentos, ainda mais abreviada pelo gélido vento norte e segui rumo a casa para a doce companhia da esposa e para as suas delicias culinárias. Depois de um novo interregno mais ou menos prolongado devido a condições climatéricas bastante dificeis, fico feliz por ter força psicológica suficiente para fazer estes regressos á serra que, á força de serem tão espaçados no tempo, nos induzem sempre uma letargia que ás vezes é dificil contrariar.

Apesar do isolamento esta paisagem transmite-me mais confiança por ser
amplamente conhecida e por estes trilhos serem também mais percorridos por
outros utilizadores.


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